Há mais de 3 meses que dedicamos nossas vidas por algo antes inimaginável. Uma busca que todos já entendiam pacificada, embora para tanto houvéssemos dedicado esforço e mobilização pela conquista. Assim bem antes do esperado e de modo tão harmônico, o parque de Boa Viagem, hoje denominado de parque Dona Lindú, já representava uma realidade. O que hoje se apresenta conflituoso é sua forma de concepção, servindo de amparo a um Centro Cultural ou mantendo sua vocação de um espaço livre e contemplativo, como o é há mais de 50 anos. O bairro cresceu ao redor deste espaço, respeitando suas delimitações, quando muito atravessando-lhe a rua Setúbal. Todos que aqui habitam e cresceram, acostumaram-se a contemplá-lo, ver que os soldados da Aeronáutica o tratavam e zelavam, como um dever pátrio de guardar um território. Daí o sonho de querê-lo público, cumprindo um papel social de um parque urbano, mas verde como é sua história.
Implantar outro projeto que lhe ocupe os espaços, que lhe desvie a função que não a contemplação da natureza, é furtar a todos este sonho, que faz os homens construir suas cidades. Ao entorno deste parque construíram-se 25 prédios residenciais, uma média de 750 apartamentos de moradia e próximo de 3.000 pessoas, que acostumaram a ouvir singelas melodias de mais de 20 espécies de pássaros livres cantarolando. Habitam nas mais de 70 árvores existentes nestes terrenos, que abrigam seus ninhos e garante uma preservação destas espécies em plena selva de pedras. O que todos precisam é ter acesso a este ambiente, desfrutar de momentos agradáveis e partilhar do esforço de preservação, para legar as gerações posteriores esta oportunidade de convivência fraterna. Nestes apartamentos moram crianças que apenas conhecem playground de plásticos, adolescentes que viciaram-se nos games, adultos que não param em casa e idosos que ficam presos nas cadeiras a ver televisão.
O projeto oferecido ao parque Dona Lindú, pouco considera o que muito se valoriza, não preserva as árvores existentes, reserva limitados espaços às crianças, jovens e idosos, destina grande parte para ocasionais eventos e traz consigo um apelo insuportável. Um espaço fixo para acolher grande massa de público externo, fomentando um convívio conflituoso e gerador de violência e desarmonia. Não fosse para tal, porque insistir em construir a despeito da maioria silenciosa, que o rejeita e entende que este espaço deve ter outra destinação. Prosseguir é marcar um encontro para o futuro, quando um outro gestor público, consultando seus eleitores e detentores do poder, poderá decidir pela vontade daqueles que assim manifestarem.
Urge fazer algo já, porque ao iniciar a derrubada das árvores estaremos assinando uma sentença que somente daqui a 15 ou 20 anos poderemos resgatar, ao ver todas replantadas. Aliás este trabalho já começou, pois a 21 de abril outras 160 mudas de árvores foram implantadas e brotam aos cuidados do Criador. Não podemos perder tempo e já aprendemos como agir, reunindo-se em grupos de pessoas, debatendo sobre as vantagens de ter um parque ecológico, manifestando nas ruas, praças, igrejas, aos que ainda não convenceram-se da necessidade. Multiplicar esta causa que já produziu mais frutos que sequer imaginávamos. Acordou a cidadania e mostrou o quanto somos manipulados pelos gestores de momento. Nosso interior convenceu-se de que é preciso encontrar novos representantes, que depois de eleitos pelo povo, buscam sustentar-se aliado aos governos e não mais se lembram das promessas eleitoreiras. Cabe agora constituir representantes que estejam comprometidos com a comunidade, que viva sentindo seus mesmos problemas, que sirva de interlocutor perante nosso governante para falar em nome do povo. Somente por isto já valeu a luta.
Numa cidade totalmente ocupada, sem mais espaços para moradia, todos os ambientes naturais que ainda existam precisam ser preservados para dar equilíbrio à vida e a natureza. São tão poucos e debilitados, que não desperta o interesse de preservar, não preocupa a ocupação desenfreada e não se vislumbra a tragédia futura de nada mais haver para discutir. O grito que hoje bradamos busca acordar para o amanhã, ter o hoje como ponto de partida para uma nova atitude. Outros espaços livres precisam da mesma obstinação, pois cada comunidade deve construir seus espaços de convivência fraterna, onde todos se encontrem e se conheçam. Como premissa que estes espaços sejam naturais, preservando a natureza e o futuro de nossa geração. É o apelo para combater o aquecimento global. Por isto insistiremos em VERDE, que te queremos VERDE.