Aqui estamos reunidos para comemorar os 300 anos de Boa Viagem, este lugar que a maioria dos presentes escolheu para viver, buscando um ambiente prazeroso e saudável em contato com o mar. Porém este desejo foi explorado a tal ponto de SE construir uma selva de pedra, com edifícios que mais parecem aranha-céu. Mas nada foi feito por governos anteriores, a ponto de Recife ser a única cidade nordestina a não ter na sua beira-mar um gabarito de construção a ordenar seu crescimento. Estes terrenos em que estamos é um oásis, que foi ameaçado igualmente pela construção vertical, mas com a falência da ENCOL foi despertada a consciência, que o Estado queria transformar uma área pública para o benefício privado.
Fomos à luta para resguardar estes terrenos e em 2003 iniciou-se, em parceria governo e comunidade, uma ação para reter a área pública e dar-lhe o sentido social, transformando-a num parque público. Iniciou-se a saga dos Amigos do Parque para conquistar o direito de ter em Boa Viagem um lugar para compensar todo o adensamento de concreto, criar um espaço livre na natureza para contemplação e convivência pacífica de seus cidadãos. Coletamos 17.000 assinaturas num abaixo-assinado e fomos ao prefeito e presidente Lula. Irmanados governo municipal e comunidade lutaram contra um inimigo oculto que não aparecia, mas era resistente, a ponto de derrotar na Câmara Municipal em 2005, um projeto de lei do vereador Luiz Helvécio, que com o apoio do prefeito João Paulo tentou transformar esta área numa ZEPA - Zona Especial de Preservação Ambiental, para barrar de vez toda e qualquer chance de construção nestes terrenos, permitindo a preservação e recuperação da natureza.
Coube ao presidente Lula em 06/set/2006 a decisão de transferir os terrenos para o município, pondo fim a uma disputa. A vitória chegou até até antes do esperado, mas com ela a certeza que doravante tudo estava pacificado, a ponto de em ato solene e público no dia 14/set/2006, na presença do ministro Paulo Bernardes representante do presidente Lula, nosso prefeito declarar que construiríamos em parceria o parque de Boa Viagem, através de um concurso público de seu projeto, para que a comunidade fizesse sua opção por aquilo que mais desejava. Mas o destino pregou-nos uma peça e o prefeito mudando de idéia, contratou o arquiteto Oscar Niemeyer para projetar o agora parque Dona Lindu, deixando todos a ver navios e poder escolher aquilo que ansiava.
Daí toda esta luta para manter-se no rumo original, não como intransigentes mas coerentes, reinvidicando as promessas de campanha assumidas inclusive perante o próprio governo Federal. Porisso é importante dizer que o projeto hoje anunciado não possui avanços para atender a comunidade, mas recúos incipientes na direção da concepção original, o que não foi suficiente para atender os reclamos populares. Havíamos estabelecido um marco nesta luta, que seria chegar aos 300 anos do bairro com a conquista do parque, um presente a toda a comunidade e a cidade do Recife.
Parque de Boa Viagem, filho mais novo e intrépido desta cidade, que chega por último e consegue implantar-se a frente dos demais, graças aos brios de seus cidadãos que foram à luta, diferentemente de sua históra, resgatando um valor de que muito necessita o nosso país, a cidadania. Portanto, cabe comemorar o parque de Boa Viagem, uma realidade em construção; cabe comemorar seus moradores que tomaram para si fazer acontecer a história; cabe comemorar a cidadania que ressurgiu no Recife e hoje toda a cidade pulsa, fala, move-se pelo parque de Boa Viagem. Obrigado a todos e de todos os recantos, sejam bem-vindos e parabéns Boa Viagem pelos seus 300 anos.